Se tudo der certo: desconfie.

14 outubro, 2012


«You know me, not my story. You've heard what I've done, not what I've been through.»


Se tu quiseres ficar maluco, pensa em ti mesmo. Era o que eu fazia. Passava o dia a falar coisas a meu respeito, para mim mesma, e para algumas pessoas mais próximas. Essa era a minha vida. Eu pensava que as pessoas estavam interessadas...
Eu sofria de egocentrismo terminal. E essa, era a minha doença. Eu ficava a pensar numa maneira de me conectar a vocês de fazer parte, de ser interessante. Eu era sempre interessante, entrava numa sala e falava algo impactante, as pessoas me idolatravam mas eu sempre acabava por ficar sozinha. Isolada no meu mundo de simpatia. O que acabou por acontecer foi que, eu comecei por me isolar mais e mais, sem manter um contacto social fisicamente, mas eu só me isolava nos finais de semana, era quando não tinha escola, quando ficava sozinha no meu quarto. Só eu e o meu computador. Nós os dois, ambos passávamos os dois dias juntos. 
"Eu estudo, esforço-me imenso, mereço descansar sozinha", era esse o meu pensamento.
É então que começaram as férias, os fins de semana viraram segundas e terças, as terças nas quartas, quintas... E assim sucessivamente... Antes que me desse conta, eu fazia isso todos os dias. E depois eu percebi que o que eu fazia era anestesiar os meus pensamentos,  eu não utilizava drogas, nem bebia, e não por falta de disposição.
Eu me desliguei de todos, vivia como vampiro, passava a noite toda acordada e dormia o dia todo. Fazia as mesmas coisas sempre, e depois de tempos e tempos eu dizia para mim mesma: "Este é o meu último dia, amanhã eu vou voltar a acção, vou voltar a realidade, e levar a minha vida adiante", e no dia seguinte eu me via a repetir o mesmo comportamento, e fazendo exactamente as mesmas coisas. Como eu não conseguia ver o meu comportamento, basicamente o que eu dizia para mim mesma, era «foda-se»,  eu não era mais responsável, e continuava a fazer as mesmas coisas. Eu não posso dizer quando ou como, porque eu, não era eu. 
Mas um dia eu percebi o meu comportamento, antes eu não conseguia percebê-lo.
Descobri que, qualquer tipo de vício, seja álcool, drogas, computadores, telemóveis, distúrbio alimentar ou sexo... Que o comportamento, os vícios que fazes com as substâncias, é apenas o sintoma.
Porque o verdadeiro problema está encoberto, é o que chamamos de «pensamento destrutivo», é o pensamento confuso, as minhas crenças, tudo em mim, a voz na minha cabeça mentindo para mim o dia todo, e eu acreditando nessas mentiras.
Na verdade eu tinha medo, medo de ser, medo de sentir, medo de providenciar alguma atitude que me pudesse vir a arrepender. Medo de ser autêntica, medo de dizer que tinha medo.
Eu acabei por parar numa prisão interna chamada «desespero», desmoralização em compreender «se é assim que vou viver o resto da minha vida, então eu desisto» e com isso eu fui ao fundo do poço.
É então que houve uma pequena pausa, um pequeno pensamento fugiu dessa realidade destrutível em que eu vivia, e eu pensei para mim, «isto não está a funcionar», «deve de haver outra forma de fazer as coisas»,  e o resultado desse pensamento foi de que eu tornei um ser humano diferente de todos os outros seres humanos depressivos, percebi uma forma de me manter conectada socialmente aos outros, comecei por perguntar como eles estavam, dar a minha opinião para quem pedisse, dar exemplos maus da minha vida, para moralizá-los, mesmo que pouco ou nada fosse. Comecei por ajudá-los.
Descobri a paz, a liberdade e o mais importante de tudo, a atitude. O que eu descobri não foi nada haver com mudança do pensamento, e isso pode contradizer o que disse acima se interpretares de uma forma diferente da minha, e sim as minhas atitudes, as minhas acções é que me fizeram mudar de pensamento. Acções direccionadas, esta é a chave. 
E a minha moral é «tu não consegues mudar nada fora de ti, até que mudes algo do interior» e isso eu posso garantir. Tu podes querer ter apenas pensamentos felizes, mas enquanto não limpares o tu ser, até aprenderes a ter amor em ti próprio, pedindo desculpas as pessoas, a quem deves, mesmo achando que não precisas, - e é isso que chamamos maturidade -, e enquanto não fizeres isso, nada será diferente lá fora, tens que ser diferente para alcançar isso, tudo começa por ti.

Somos todos viciados, não há ninguém que não seja. E a questão é: 
Até que ponto, és viciado?


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